Mediterrâneo, Palombaggia

fotografia: filipe sousa | outubro 2005

 






















Para lá da espuma dos dias, fica a espuma essencial que nos mantém à tona, como a das águas turquesas de Palombaggia.

«Normalmente fala-se da espuma em termos gerais ou pedantes, a maioria das vezes a propósito das vagas e do vento. As analogias com a ligeireza ou a frivolidade, a facúndia ou a fecundidade, mais não são que comparações: não dizem o que é, de facto, a espuma. Raros são aqueles que pretendem saber o seu volume, a sua composição, se é salgada como o mar, porque é que este a rejeita com tanta obstinação para a praia, e em que quantidades. De resto, não se sabe bem se se pode falar de quantidades a propósito dela. Não esqueçamos também a diferença entre a espuma que flutua no mar e a que se depõe na praia: dificilmente se deixam dissociar, embora por vezes se excluam uma à outra. Ambas nos são familiares e cada uma tem o seu lugar. Não há espuma no mar Morto.» 

Predrag Matvejevitch, Breviário Mediterrânico (1987), trad. do francês Pedro Tamen, Quetzal Editores, Lisboa, 2019, p. 44. 

Ponta de São Lourenço

fotografia: filipe sousa | 18 setembro 2020

 























Hoje celebra-se o Dia Internacional do Fascínio das Plantas. A condizer, fascinado me confesso pelas plantas resilientes da Ponta de São Lourenço e palavras sábias de Teofrasto.

As partes de uma planta

«Depois de ter enumerado as suas partes, tentaremos falar acerca de cada uma. As primeiras, principais e comuns à maioria, são a raiz, caule, ramo e galho, que são como que os membros em em que a planta pode dividir-se, tal como os animais. Cada uma é distinta daas outras, e delas todas se forma o conjunto. Raiz é a parte pela qual é levado o alimento; o caule, aquela par onde é conduzido. Chamo caule à parte simples que surge acima da terra, que é comum igualmente às plantas anuais e perenes, e que nas árvores se chama tronco; ramos, às partes que se bifurcam a partir dele, e a que alguns chamam franças; e galhos aos rebentos que delas se originam, tais como têm sobretudo as plantas anuais, e que são especialmente próprios das árvores.
O caule, como se disse, é a parte mais comum. Mas, a este mesmo, nem todas o têm, como certas herbáceas. Algumas não têm sempre, mas só anualmente, como aquelas cujas raízes duram mais. De um modo geral, a planta é coisa múltipla, variada e difícil de definir no seu conjunto. Prova disso é que não podemos tomar nenhuma característica em comum, que exista em todas, como a boca e o ventre, nos animais.
Por analogia, umas partes são assim, outras de outro modo. Com efeito, nem todas as plantas têm raiz, ou caule, ramos, galhos, folhas, flores ou frutos, nem casca, medula, nervos ou veias, como o cogumelo e a túbera. Mas nestas e noutras assim a sua natureza existe. Todavia, é sobretudo nas árvores que, como dissemos, se encontram estas partes, e a elas que pertencem especificamente. É justo, pois que sejam o ponto de referência para as restantes plantas.»

Teofrasto (séc. IV-III a.C.), História das Plantas, I, 9-11 (trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Hélade, Antologia da Cultura Grega (1959), 8ª ed. Edições Asa, Porto, 2003, p. 464.