fotografia: filipe sousa | 16 abril 2016 |
É uma expressão latina atribuída a Santo Agostinho. «Solvitur ambulando», ou seja, «caminhar tudo resolve», «resolve-se caminhando». Fixada por Bruce Chatwin, séculos mais tarde, no The Songlines (O Canto Nómada, na tradução portuguesa), é uma espécie de fio condutor da sua deambulação de nove semanas pelo deserto australiano em busca das virtudes da errância. Uma ode à itinerância, ao movimento, ao nomadismo, à caminhada.
«Solvitur ambulando» é uma máxima que também faço minha, como um lema de vida. E que procuro praticar todos os fins-de-semana perto de casa, caminhando ou sobretudo correndo, enquanto não tenho possibilidade de sair para outros cenários e percorrer distâncias de maior fôlego. Dez quilómetros a levitar, entre Moura e o Guadiana (e vice-versa), na estrada mais bela do mundo (até ver!), são reparadores o suficiente para enfrentar a semana de trabalho e as agruras do quotidiano, permitindo-me desligar de mim e do mundo por momentos para, já refeito, reconciliar-me comigo e com o mundo. Nada contraditório! É uma terapia, uma necessidade, um escape, um impulso, um acto de purificação, um carregar de baterias, um prazer sem limites, chame-se o que se quiser, que me é vital para aliviar o corpo e a mente, para manter o equilíbrio, para rever o passado e projectar o futuro, para criar, arrumar e desarrumar ideias, para definir prioridades e fazer escolhas: «não sei para onde vou, não sei para onde vou – sei que não vou por aí!», como diria Régio.
A estrada da Barca chama-me de novo, amanhã. E sei que vou por aí, faça sol ou chuva!
Solvitur ambulando. «Caminhar tudo resolve».
Bruce Chatwin, O Canto Nómada (The Songlines, 1987), trad. José Luís Luna, Quetzal Editores, Lisboa, 1995, p. 213.