fotografia: filipe sousa | 9 maio 2023 |
A Casa da Cerca, em Almada, está a celebrar trinta anos. Refiro-me, bem entendido, ao Centro de Arte Contemporânea, pois enquanto palácio e quinta de recreio conta cerca de cinco séculos.
Uma exposição a não perder, inaugurada no mês passado e que ficará patente até Fevereiro de 2024, leva-nos ao passado longínquo e recente desse conjunto construído de interesse histórico, arquitectónico e patrimonial, situado na margem sul do Tejo, num morro fronteiro a Lisboa. Uma viagem desde os vestígios quinhentistas à sua utilização como enfermaria pelo Hospital de Almada, em 1975, em pleno PREC, passando pelas muitas histórias dos diversos proprietários, de João Lobo, fidalgo almadense que, em Junho de 1581, cede o espaço a Filipe I para aposento real, a Barahona Cruz Silva, residente ao tempo da Revolução de Abril de 74.
Da fase que marca a passagem da Casa da Cerca para o domínio público, destacam-se dois momentos. Em Junho de 1988, quando a Câmara Municipal de Almada adquire o imóvel à família Barahona Cruz Silva por 50 milhões de escudos (cerca de 226 mil euros) para o transformar num equipamento cultural ao dispor da comunidade, depois de rejeitadas as propostas para construção de um templo religioso e dois empreendimentos turísticos. E em 1993 (21 de Novembro), quando se inicia o projecto do Centro de Arte Contemporânea, com o contributo decisivo de Rogério Ribeiro (1930-2008).
Daí para cá, três décadas de inestimável serviço público sob o signo da Arte Contemporânea, com especial foco no Desenho, através dos seguintes eixos de intervenção: Exposições e Residências Artísticas, Acervo, Galeria, Centro de Documentação e Investigação, Serviço Educativo, Jardim Botânico-Chão das Artes, Eventos, Parcerias e Acessibilidades. Diferentes valências que tornam a Casa da Cerca num lugar privilegiado de inspiração, criação e conhecimento.
E tudo isto acompanhado de uma das melhores vistas panorâmicas de Lisboa, que o diga Filipe I:
«Fomos assim até mais abaixo de Lisboa, onde atravessámos o rio até aqui, a Almada, onde tenho uma pousada muito bonita, ainda que pequena. De todas as janelas vê-se o rio e Lisboa e as naus e, muitas vezes, galeras. Num quarto alto, onde escrevo, vê-se, de uma janela, Lisboa inteira (…)»
Excerto de carta do rei Filipe I às suas filhas.
Almada, 26 de Junho de 1581.