Guarda

«As estações de serviço merecem ponderada especulação, têm muito que se lhe diga. Estão para os tempos de agora como as malas-postas para os remotos viajantes do princípio do século dezanove e, bem assim, as postas de muda dos períodos e lugares em que existiram, como no Império Romano e na mais antiga Pérsia. (...)
São tão populares e bem-amadas as estações de serviço que aos fins-de-semana esvaziam as aldeias, vilas e povoados em redor e toda a gente acorre em excursão a perambular no vistoso palácio da estrada, entre as casa de banho, o self-service, a tabacaria, o balcão dos cafés e das cervejas, tudo do mais fino disaine, muito parecido com outro que há em Insbruck, outro na Lovaina, outro em Salonica. Uma das vantagens destes edifícios, mai-lo seu recheio, é precisamente essa. Deixamos de saber em que terra estamos, viajamos para Singapura, ou para Helsínquia, sem tirar os pés da sacra Pátria lusitana: Mas é preciso conceder, faça-se justiça e pereça o mundo, que as sandes de fiambre aguado com alface requeimada sempre serão mais tragáveis que o bodum do carneiro de outrora, e que as rodelas de chouriço não têm comparação com  a iguaria equivalente da Dinamarca.»

Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina, 3ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 2003, pp. 103-104.


fotografia: filipe sousa | 31 outubro 2019

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