Berlin / Berlim, Rosenthaler straße 40-41

fotografia: filipe sousa | 24 janeiro 2020



























Jenny Schneebaum nasceu em 9 de Janeiro de 1908, em Rostock / Mecklenburg, como Jenny Brandorowitsch. Era casada com Hermann Schneebaum, encadernador de profissão, nascido em 21 de Junho de 1906, em Berlim. O casal tinha dois filhos, Thea Schneebaum e Victor Schneebaum. No dia 29 de Janeiro de 1943, a família foi deportada para Auschwitz. Vivia então na Rosenthaler straße, 40-41. Acabariam por morrer os quatro no maior campo de extermínio do regime nazi. Thea não tinha feito ainda os 12 anos e Victor não completara os 2. Como eles, cerca de um milhão de pessoas foram ali executadas ou vitimadas por fome, doenças ou exaustão devido a trabalhos forçados. Passam hoje 75 anos sobre a libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas e é por isso que 27 de Janeiro foi escolhido para assinalar o Dia Internacional em memória das vítimas do Holocausto. O 40-41 da Rosenthaler straße é hoje ocupado por edifícios que albergam galerias comerciais. Quatro "pedras de ouro" no passeio lembram as vidas de Jenny, Hermann, Thea e Victor Schneebaum. Porque é preciso manter a memória bem viva, para não esquecer as atrocidades cometidas e para que a História não se repita. Nunca mais.  

Marseille / Marselha, Cours Julien 51

fotografia: filipe sousa | 17 outubro 2019



























«REGRA DE VIDA

1. Faz o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma, mas se fizeres algumas, fá-las falsas ou imprecisas.
2. Sonha o menos possível, excepto quando o propósito directo do sonho for um poema ou uma produção literária. Estuda e trabalha.
3. Tenta ser o mais sóbrio possível, antecipando a sobriedade do corpo por uma atitude sóbria da mente.
4. Sê amável apenas por simples amabilidade, não abrindo a tua mente ou discutindo livremente os problemas que estão ligados à vida íntima do espírito.
5. Cultiva a concentração, tempera a vontade, faz de ti uma força pensando, o mais intimamente possível, que és realmente uma força.
6. Considera quão poucos amigos verdadeiros tens, porque poucas pessoas são capazes de ser amigas de alguém.
7. Tenta cativar por aquilo que o teu silêncio contém.
8. Aprende a agir prontamente nas pequenas coisas, nas coisas triviais da vida da rua, da vida doméstica, da vida do trabalho, a não tolerares atrasos vindos de ti próprio.
9. Organiza a tua vida como uma obra literária, pondo nela tanta unidade quanta seja possível.
10. Mata o Assassino.»

(...)

«REGRA DE VIDA 

1. NÃO TENHAS OPINIÕES firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos.
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabemos a que leis as cousas obedecem, não sabemos e as leis naturais estão de acordo ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7.Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.» 

Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, edição e posfácio de Richard Zenith, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003, pp. 349, 351, 357, 358.