fotografia: filipe sousa | 17 outubro 2019 |
«REGRA DE VIDA
1. Faz o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma, mas se fizeres algumas, fá-las falsas ou imprecisas.
2. Sonha o menos possível, excepto quando o propósito directo do sonho for um poema ou uma produção literária. Estuda e trabalha.
3. Tenta ser o mais sóbrio possível, antecipando a sobriedade do corpo por uma atitude sóbria da mente.
4. Sê amável apenas por simples amabilidade, não abrindo a tua mente ou discutindo livremente os problemas que estão ligados à vida íntima do espírito.
5. Cultiva a concentração, tempera a vontade, faz de ti uma força pensando, o mais intimamente possível, que és realmente uma força.
6. Considera quão poucos amigos verdadeiros tens, porque poucas pessoas são capazes de ser amigas de alguém.
7. Tenta cativar por aquilo que o teu silêncio contém.
8. Aprende a agir prontamente nas pequenas coisas, nas coisas triviais da vida da rua, da vida doméstica, da vida do trabalho, a não tolerares atrasos vindos de ti próprio.
9. Organiza a tua vida como uma obra literária, pondo nela tanta unidade quanta seja possível.
10. Mata o Assassino.»
(...)
«REGRA DE VIDA
1. NÃO TENHAS OPINIÕES firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos.
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabemos a que leis as cousas obedecem, não sabemos e as leis naturais estão de acordo ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7.Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.»
Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, edição e posfácio de Richard Zenith, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003, pp. 349, 351, 357, 358.
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