fotografia: filipe sousa | 4 dezembro 2019 |
«Fernando Salgueiro Maia comanda o 3º Grupo de Instrução e o 1º Esquadrão da Escola Prática de Santarém (EPC). Leva 10 anos de serviço, com uma comissão em Moçambique, outra na Guiné.
Alguém o procurou há dois dias num conhecido café, conforme combinado. A ordem de operações é-lhe passada no recato do seu próprio carro, que tem vindo a ser seguido por uma viatura que ele presume transportar agentes ou informadores da polícia política. Sem trair qualquer nervosismo, cria no quartel todas as condições para que o municiamento das viaturas fique pronto para a uma hora da madrugada do dia 25. Só põe ao corrente do que se vai passar os oficiais do quadro permanente aderentes ao Movimento, seis oficiais milicianos e três furriéis. Quando se ouve, pelas 24h21m, no programa «Limite», da Rádio Renascença, a segunda senha da operação (os primeiros versos de «Grândola Vila Morena», ditos por Leite de Vasconcelos, seguidos pelo início da canção interpretada por Zeca Afonso) o major Rui Costa Ferreira e os capitães Garcia Correia, Bernardo e Aguiar - envolvidos na conspiração - tentam aliciar o 2º comandante da Unidade. Em vão. Pela uma e meia é dada ordem para acordar todo o pessoal, que é chamado a uma sala para ouvir Salgueiro Maia.
«Meus senhores: como vocês devem saber, há várias modalidades de o Estado se organizar. Há os Estados socialistas, os Estados capitalistas, e há o estado a que nós chegámos. De maneira que quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa, e vamos acabar com isto. (...) Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui.»
«A quase totalidade quer marchar sobre Lisboa», escreverá o capitão, mais tarde, no Relatório da acção, a que os estrategos põem o nome inequívoco de «Fim Regime».»
Adelino Gomes (texto) e Alfredo Cunha (fotografias), O dia 25 de Abril de 1974 - 76 fotografias e um retrato, Contexto editora, Lisboa, 1999, pp. 11-12.
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