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fotografia: filipe sousa | 25 janeiro 2020 |
Nikolai Gógol (1809-1852) é considerado o grande prosador da literatura russa moderna. Com o seu Poema (Almas Mortas, na tradução portuguesa) imaginou "o livro" sobre a Rússia, uma obra épica que não apenas retratasse a Rússia feudal do seu tempo como lhe traçasse o futuro.
Curiosidade: Gógol nasceu na província de Poltava, que hoje pertence à Ucrânia, mas que na época fazia parte do Império Russo czarista.
Como consequência, tanto a Rússia quanto a Ucrânia reivindicam agora a sua nacionalidade.
O que Gógol não imaginou é que a disputa sobre as suas origens se tornaria num dos rastilhos da actual tensão entre os dois blocos políticos e militares.
«Também tu, ó Rússia, não correrás assim, como uma troika célere e inultrapassável? Fumega o caminho debaixo das tuas rodas e tudo vai ficando para trás. Queda-se o espectador, espantado com o milagre divino: não será isto um raio do céu? O que significa esta correria de meter medo? Que força obscura existe nestes cavalos que o mundo desconhece? Eh, cavalos, cavalos, que cavalinhos! Será que as vossas crinas transportam furacões? Tereis em cada veia um ouvido apurado? Ouvistes de cima uma cantiga familiar e logo retesastes, todos de uma vez, os vossos peitos de cobre e, quase sem tocardes com os cascos em terra, tornastes-vos linhas estiradas voando pelo ar, e toda ela corre, inspirada por Deus... Rússia! Para onde corres tu? Responde-me. Não há resposta. Desfazem-se os guizos num divino guizalhar; troveja e faz-se vento o ar rasgado em pedaços; a teu lado voa tudo o que há na terra e, olhando de soslaio, afastam-se e abrem-lhe alas os outros povos e Estados.»
Nikolai Gógol, Almas Mortas - poema, (Mertvi Duchi (Poema), 1842), trad. Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002, p.327.