fotografia: filipe sousa | 24 agosto 2020 |
O Miradouro
Temi o verão, o tempo. Aproximava-se.
Vi-o transparecer do que é parado,
de bermas e de vistas.
As pedras de Marvão estavam ligadas,
no miradouro, às pedras
da paisagem. Em tudo era a passagem
da temperatura, o verão,
que começava - eu vi - entre muralhas, as aves,
as gralhas do alentejo trasmudavam-se
tão quentes, como poderiam ser os fogos
da vila mais vorazes?
Esses fogos nas lajes, a mesma combustão
das pedras, a denegrida pele dessas lareiras
em redor.
O temor - era o poente - então reverberava
sobre as partes do horizonte, o monte só
da vila, logo a extensão das terras
baixas, brenhas, os tumultos
de um miradouro alto despenhado
sobre sopés, profusos
traços de uma estação de tempo
que me deteve,
tépida no miradouro, assim como
temendo a posição de ver,
temia a vez
da solidão.
Fiama Hasse Pais Brandão ((Este) Rosto, 1970), Obra Breve - Poesia Reunida, Assírio & Alvim, Lisboa, 2017, p. 87.
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