Parma, Piazza della Pace

fotografia: filipe sousa | 30 maio 2022

 
















A cidadela de Parma, de que fala Stendhal, não existiu. A torre Farnese, onde Fabrício del Dongo, o herói do romance, esteve preso, também é fruto da sua imaginação. E, nos anos em que a história da Cartuxa de Parma se desenrola, o ducado de Parma não foi governado por Ranúncio Farnese IV, como faz crer o autor, mas pela duquesa Marie Louise von Habsburg-Lothinghen, filha de Franciso II da Áustria e segunda esposa de Napoleão Bonaparte, que regressa a Parma, após a morte do marido na ilha de Santa Helena, para fazer parte da história da cidade. Apesar de toda a encenação e do facto de nas mais de quatrocentas páginas da Cartuxa não haver uma única descrição de Parma, a sua sombra não deixa de me seguir na descoberta do espírito do lugar.

«A sudeste, e a dez minutos da cidade, ergue-se uma famosa cidadela, de grande nomeada na Itália, cuja grande torre tem cento e oitenta pés de altura, e é visível de muito longe. Essa torre, construída sobre modelo do mausoléu de Adriano, em Roma, pelos Farnese, netos de Paulo III, em princípios do século dezasseis, é de tal espessura que foi possível construir sobre a esplanada que remata um palácio para o governador da cidadela e outra prisão, denominada "Torre Farnese". Esta prisão, construída em honra do filho mais velho de Ranúncio - Ernesto II, que se tornara amante da madrasta, tem fama de bela e singular no país. A duquesa teve curiosidade em vê-la; no dia da sua visita o calor era sufocante em Parma, e lá no alto, naquelas alturas, encontrou ar respirável, o que a deliciou de tal modo que passou ali várias horas. Apressaram-se a abrir-lhe as salas da torre Farnese.»

Stendhal, A cartuxa de Parma  (La chartreuse de Parme, 1839), trad. Adolfo Casais Monteiro, Editorial Estúdios Cor, Lda, Lisboa, 1957, p. 108.

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