fotografia: filipe sousa | 19 outubro 2022 |
Um clássico intemporal.
No melhor pano cai a folha.
Feira Desmanchada
Num frouxo de riso, desmonto o barraco;
vida é outra loiça, que não este caco.
Rio como pode rir um português
ao ouvir ocioso: -Será para outra vez...
-Aqui há talento! Dizem-me os vedores.
Seja para alívio das nossas dores!
Mas que remédio senão ser talentoso
quando tudo anda tão nervoso
e não há licença de porte dessa arma
que é a palavra não desfigurada!
Talento manejado a meu talante,
sê modesto, já que és, afinal, o circunstante,
e eu, o teu dono, se tivesse lazer,
sem disparos verbais andava era aos pardais,
por esses trigais e milharais
que lhes dão de comer...
Alexandre O'Neill, Poesias Completas (Feira Cabisbaixa, 1965), 3ª ed., Assírio & Alvim, Lisboa, 2002, p. 251.
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