fotografia: filipe sousa | 22 junho 2024 |
fotografia: filipe sousa | 22 junho 2024 |
fotografia: filipe sousa | 14 junho 2024 |
Johann W. Goethe, Fausto (Faust, Eine Tragödie, 1808, 1832), trad. João Barrento, Relógio d'Água Editores, Lisboa, p. 84, vv. 1220-1237.
fotografia: filipe sousa | 13 junho 2024 |
fotografia: filipe sousa | 11 junho 2024 |
«Andávamos de bicicleta - porque é que isso dá prazer? Muda-se de paisagem mas é o fruto do nosso esforço, sentimo-nos compensados. E há o triunfo do equilíbrio na aresta das duas rodas, todo o nosso corpo subutilizado nesse mínimo de suporte. E há a ascensão de nós nesse movimento alado. E há a simplicidade, quase o esquematismo dessa máquina de andar.»
Vergílio Ferreira, Para sempre, 3ª ed., Livraria Bertrand, Lisboa, 1983, p. 226.
fotografia: filipe sousa | 12 junho 2024 |
«O Tony Visconti e eu fomos para os estúdios Hansa para terminar a produção do novo disco. Estávamos finalmente em Berlim. Nem o Jim, nem eu perdemos muito tempo a olhar para as listas de êxitos. Berlim chamava-nos, por isso mergulhámos nela como gatos vadios. Passávamos horas nos seus cafés e nos seus cabarés.
Contámos com uma cicerone fabulosa: a Romy Haag, que, num abrir e fechar de olhos, caiu na minha teia de sedução. Parecia saída da Berlim dos anos 1930. envolvemo-nos em tudo o que a cidade nos oferecia e fizemos as nossas farras, embora sem perder as estribeiras. Tinha de ter atenção para os traficantes de Berlim não se aproximarem demasiado do Jim e ele fazia o mesmo comigo. As coisas eram assim: tínhamos de cuidar um do outro.
O IGGY E EU TÍNHAMOS PROBLEMAS GRAVES COM AS DROGAS. PARA RESOLVÊ-LOS, MUDÁMO-NOS PARA BERLIM, CAPITAL MUNDIAL DA HEROÍNA.
O Jim andava todos os dias catorze quilómetros para se pôr em forma. Eu gostava de me perder pelos bairros dos operários estrangeiros e passar horas nas suas pequenas lojas sem que ninguém me reconhecesse. Depois juntávamo-nos e púnhamos as notícias em dia.
Os imigrantes, os cabarés e um muro de betão a dividir a cidade ao meio: tudo aquilo era Berlim. Não podia deixar de pensar num par de namorados a beijar-se em frente do Muro para desafiar aquela estrutura de arame farpado e desconfiança. Assim nasceu »Heroes», um hino que recordava que nada era mais transgressor do que o afecto entre duas pessoas.»
María Hesse, Fran Ruiz, Bowie, Uma biografia (Una biografia, 2018), trad. Lucília Filipe, Penguin Random House, Lisboa, 2019, p. 85.
fotografia: filipe sousa | 8 junho 2023 |
DESEJO DE SE TORNAR ÍNDIO
Oh, se fôssemos índios, já preparados e, em cima de um cavalo que corre, inclinados contra o vento, estremecêssemos repetidamente sobre o solo que treme até largarmos as esporas porque nunca houve esporas, até deitarmos fora as rédeas porque nunca houve rédeas e quase não víssemos a terra à nossa frente revelar um prado ceifado e liso, agora que o cavalo perdeu o pescoço e a cabeça.
Franz Kafka, «Observação» («Betrachtung», 1913), trad. José Maria Vieira Mendes, in Os Contos, 1º vol., Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p. 46.
fotografia: filipe sousa | 8 junho 2024 |
«Ao chegar ao Monte Petřín, uma colina verdejante que se ergue no centro de Praga, percebeu com espanto que não estava lá ninguém. Era estranho porque habitualmente, e seja a que horas for, as suas áleas estão sempre cheias de gente que lá vai apanhar ar. Sentia-se extremamente angustiada, mas o monte estava tão silencioso e o silêncio era tão tranquilizante que se entregava confiadamente a ele. Subiu, parando de vez em quando para olhar para trás. A seus pés, descobria-se uma infinidade de torres e de pontes. Os santos, com os seus olhos petrificados e posto nas nuvens, erguiam ameaçadoramente os punhos. Era a cidade mais bonita do mundo.»
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser (Nesnesitelná lehkost byti, 1983), trad. Joana Varela, 25ª ed., Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2002, p. 179.
fotografia: filipe sousa | 7 junho 2024 |
A JANELA PARA A RUA
Quem leve uma vida solitária e tenha de vez em quando a necessidade de algum tipo de contacto, que, atento às mudanças da hora do dia, mudanças de clima, das relações profissionais e afins, queira ter um simples braço, um qualquer a que se possa agarrar - uma pessoa destas não conseguirá aguentar muito tempo sem uma janela que dê para a rua. E se esta pessoa por acaso não estiver à procura de nada e apenas se aproximar do parapeito, como um homem cansado, para passear os olhos, para cima e para baixo, alternando entre o público e o céu, e não quiser olhar e incline a cabeça um pouco para trás, então, nesse caso, os cavalos lá em baixo arrastá-lo-ão consigo no seu cortejo de carruagens e barulho e assim finalmente em direcção à harmonia humana.
Franz Kafka, «Observação» («Betrachtung», 1913), trad. José Maria Vieira Mendes, in Os Contos, 1º vol., Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p. 44.