fotografia: filipe sousa | 7 junho 2024 |
A JANELA PARA A RUA
Quem leve uma vida solitária e tenha de vez em quando a necessidade de algum tipo de contacto, que, atento às mudanças da hora do dia, mudanças de clima, das relações profissionais e afins, queira ter um simples braço, um qualquer a que se possa agarrar - uma pessoa destas não conseguirá aguentar muito tempo sem uma janela que dê para a rua. E se esta pessoa por acaso não estiver à procura de nada e apenas se aproximar do parapeito, como um homem cansado, para passear os olhos, para cima e para baixo, alternando entre o público e o céu, e não quiser olhar e incline a cabeça um pouco para trás, então, nesse caso, os cavalos lá em baixo arrastá-lo-ão consigo no seu cortejo de carruagens e barulho e assim finalmente em direcção à harmonia humana.
Franz Kafka, «Observação» («Betrachtung», 1913), trad. José Maria Vieira Mendes, in Os Contos, 1º vol., Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p. 44.
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