fotografia: filipe sousa | 9 dezembro 2024 |
Soneto do vinho
Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
Ideia singular de inventar a alegria?
Com outonos dourados a inventaram. O vinho
Vai fluindo vermelho pelas gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Oferece-nos a música, o fogo, os leões.
Na noite jubilosa ou na jornada adversa
Ele exalta a alegria ou suaviza o espanto
E o ditirambo novo que agora lhe canto
Outrora lhe cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha história
Como se ela já fosse cinza na memória.
Jorge Luís Borges, O Outro, o Mesmo (1964), Poesia completa, trad. Fernando Pinto do Amaral, Quetzal, Lisboa, 2022, p. 228.
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