«Um nada fica a lembrar-se para sempre, nós alugávamos duas bicicletas, partíamos ao sol pela estrada fora. Já alguém falou do prazer de uma bicicleta? Mas tanta coisa dá prazer e não sabemos de quê. Andar, movimentar-nos, contemplarmos um horizonte marinho, como eu o via da Biblioteca. Ou sentarmo-nos à sombra num banco de jardim ou de esplanada. Ou tomar um duche quente ou frio. Ou mudar de roupa, sobretudo de lençóis. Ou cantarolar na banheira - há quem. Ou ver um espectáculo mas acompanhado. Ou. Andávamos de bicicleta - porque é que isso dá prazer? Muda-se de paisagem mas é o fruto do nosso esforço, sentimo-nos compensados. E há o triunfo do equilíbrio na aresta das duas rodas, todo o nosso corpo subtilizado nesse mínimo de suporte. E há a ascensão de nós nesse movimento alado. E há a simplicidade, quase o esquematismo dessa máquina de andar.» Vergílio Ferreira, Para sempre, 3ª edição, Livraria Bertrand, Lisboa, 1983, p. 216.
fotografia: filipe sousa | agosto 2001
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