Segundo as informações que colhi, parece que havia antigamente maior abundancia de quasi todas as especies, porém actualmente, e de alguns annos a esta parte, tem havido diminuição, tendo mesmo desapparecido, quasi por completo, algumas classes.
Os pescadores d'este rio querem attribuir a falta ou diminuição do peixe às aguas saídas das minas de cobre existentes nas duas margens do rio, e as quaes são mina de S. Domingos na margem portuguesa, e as minas Lagunazo, Cabeza del Pasto, e Vuelta Falsa na margem hespanhola.
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Quadro Indicativo das Differentes Especies de Peixe que habitam e frequentam o rio e a costa no districto maritimo de Villa Real de Santo Antonio
Bárbo - Existia em grande quantidade em todo o rio; porém, de alguns annos para hoje, tem diminuido sensivelmente, principalmente no inverno. É peixe só do rio. Encontra se ainda em Mertola e para o N. d'este ponto, e em mais abundancia no verão. Vive sempre no rio e nos pontos lodosos. Desova em abril e maio, proximo das margens de cascalho.
Bordállo - Havia grande abundancia d'este peixe. Tem diminuido bastante. Encontra-se mais no verão que no inverno, epocha em que quasi desapparece. Vive só no rio. Desova em abril e maio, procurando as margens de lodo, onde parece que vive.
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Boga - Existe em grande quantidade em todo o rio, quer de verão, quer de inverno. Parece crear-se do lodo. Desova em janeiro, fevereiro e março, procurando os pontos em que a agua corre com mais violencia, e os menores fundos junto às margens.
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Eiró - Existe em grande quantidade n'este rio, de Alcoutim para o N. do rio. É pescada mais de verao que de inverno, em que apparece menos.
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Lampreia - Apparece em Mertola e suas immediações de março em diante, e em regular quantidade, ainda que hoje mais diminuta que antigamente. Depois de desovar desapparece, deixando a creação nos mesmos pontos em que desova.
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Mugem - Existe grande abundancia d'este peixe dentro d'este rio e na costa, de onde entra no rio adiante dos temporaes, e nas phases da lua, lua nova e lua cheia. Vive do lodo. Desova em março, abril e maio, nos fundos de pedra e nos de lodo.
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Picão - É em tudo similhante ao barbo, porém de menores dimensões. Existe, em grande quantidade em Mertola e suas imediações. É peixe do rio. Desova em abril e maio, nas margens de cascalho.
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Peixe rei - Apparece algumas vezes dentro do rio e só próximo da foz. Desova no verão, junto às pedras da margem.
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Savel - Entra no rio em março, abril, maio e junho, dirigindo-se para o norte do rio, proximidades de Mertola, onde desova, saíndo depois para o mar no começo das chuvas, e portanto quando as ribeiras desaguam no rio. Alimenta-se, enquanto no rio, de diversos resíduos. Apparece hoje menos que n'outros tempos. Desova de março a junho, junto ao cascalho na margem.
Sabóga - Entra no rio ao mesmo tempo que o savel. Depois de desovar e deixando as crias no rio, desenvolvendo-se, sai para o mar de julho em diante. Passa o inverno no mar. Desova ao mesmo tempo que o savel e nas margens de cascalho.
Sôlho - Ha annos em que apparece em grande quantidade em Mertola e para o norte d'este ponto. Desova nas cascalheiras em abril e maio. Entra no rio em abril e maio, desova e volta para o mar, deixando as crias no rio. Já se tem apanhado crias d'este peixe, regularmente desenvolvidas, em novembro e dezembro.
Saltão - É em tudo similhante ao mugem, e é assim chamado pelos saltos que dá fora de agua como a tainha. Depois de desovar nos mezes de primavera, e tão sómente de Alcoutim para o norte, sai para o mar do mez de julho em diante.
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Taínha - É o mesmo que o mugem, sendo contudo de maiores dimensões. Apparece no rio em quantidade regular. Desova dentro do rio nos mezes quentes.»
Alfredo Ghira, Relatório sobre a pesca marítima e fluvial e industria de pesca no Districto Marítimo de Villa Real de Santo Antonio, Imprensa Nacional, Lisboa, 1889, pp. 3, 9, 12, 13, 14, 15, 16, 17.
fotografia: filipe sousa | abril 1990 |
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