Berlin / Berlim, Genthiner Strasse 38

fotografia: filipe sousa | 25 janeiro 2020

















Na recta final da corrida presidencial norte-americana, os burros (democratas) levam vantagem sobre os elefantes (republicanos). Ainda Tudo-Pode-Acontecer, mas o mais provável é que os EUA passem de elefante para burro! Felizmente! Já tardava a mudança.

Pretexto para evocar todos os Plateros esquecidos deste mundo, e um em especial.

«Entretanto, D. Quixote solicitou a um lavrador seu vizinho, homem de bem - se é que este título pode ser dado a quem é pobre -, mas de pouco sal na moleirinha. Em resumo, tantas coisas lhe disse, tanto procurou convencê-lo e tais promessas lhe fez que o pobre aldeão decidiu ir com ele para lhe servir de escudeiro. Dizia-lhe, entre outras coisas, D. Quixote que ele acedesse a acompanhá-lo de boa vontade, porque nalguma ocasião lhe podia acontecer ser vencedor de uma aventura em que conquistasse, num abrir e fechar de olhos alguma ínsula e o nomeasse o governador dela. Com estas promessas e outras semelhantes, Sancho Pança, que assim se chamava esse lavrador, deixou a mulher e os filhos e comprometeu-se a servir como escudeiro o seu vizinho. Em seguida D. Quixote procurou arranjar dinheiro e, vendendo uma coisa e empenhando outra, e malbaratando todas, reuniu uma quantia considerável. Muniu-se também de uma rodela, que pediu emprestada a um amigo, e consertando o melhor que pôde a celada que se rompera, avisou o seu escudeiro Sancho Pança do dia e da hora em que tencionava pôr-se a caminho, para que ele se fornecesse do que considerasse mais necessário. Sobretudo, mandou-o levar alforges; e ele disse que os levaria e que também tencionava levar um burro que tinha, muito bom, porque não estava afeito a andar muito a pé. Quanto ao burro, D. Quixote meditou um pouco, para apurar se se lembrava de algum cavaleiro andante ter já trazido um escudeiro montado asnalmente; mas não lhe veio nenhum à memória; porém, apesar disto, resolveu que Sancho o levasse, com o propósito de o dotar de mais honrada cavalaria quando houvesse oportunidade para isso, tirando o cavalo ao primeiro cavaleiro não cumpridor dos preceitos de cavaleiro que viesse a encontrar.»

Miguel de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha (El Ingenioso Hidalgo Don Quixote de la Mancha, 1605), trad. José Bento, Relógio d'Água Editores, 2005, parte I, cap. VII, p. 72. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.