Bergamo / Bérgamo, Via Sudorno

fotografia: filipe sousa | 21 junho 2022

 






















Bérgamo.
Para quem não se recorda, foi o epicentro da primeira vaga de pandemia de Covid-19 em Itália, e na Europa também. Só nos meses de Fevereiro e Março de 2020 morreram nesta cidade lombarda cerca de 4.500 pessoas.
Passaram entretanto dois anos.
Quem a viu em 2020, através dos relatos e lentes dos jornalistas da SkyNews – que nos deram conta do inferno vivido nos hospitais, das morgues improvisadas, dos funerais realizados ao mínimo ou dos cemitérios e crematórios sobrelotados –, e quem a vê em 2022, como eu a vi hoje, "renascida das cinzas", exibindo o mesmo encanto que lhe notei há dezoito anos quando aqui estive pela primeira vez. É como o dia e a noite. O paraíso que sucede ao inferno.
Guiado por este simbolismo, pus-me também eu a caminho do paraíso. Da Città Bassa à Città Alta, preferindo o esforço de subir a escadaria da Via Salita di Scaletta, entre muros antigos e frondosas árvores, à comodidade do funicular disponível perto da porta San Giacomo.
Para lá da Città Alta encontrei finalmente a redenção total, no Parco dei Colli di Bergamo, lembrando os versos de Dante Alighieri:

«E se le fantasie nostre son basse
a tanta altezza, non è maraviglia;
ché sopra 'l sol non fu occhio ch'andasse.»

«Que nossa fantasia se abaixasse
a tanta altura assim não maravilha;
que sobre o sol não houve olhar que andasse.»

Dante Alighieri, A Divina Comédia (La Divina Commedia, sec. XIV), Parte III - Paraiso, Canto X, versos 46-48, trad. Vasco Graça Moura, 6ª ed., Bertrand Editora, 2002, pp. 676-677.

PS. Esforço baldado e redenção efémera é o que cabe dizer no final desta jornada, porquanto na descida à Città Bassa acabei por ser traído por um prazer mundano, que deitou tudo a perder!, ao passar pelo restaurante La Marianna, a pátria do gelado Stracciatella!

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