fotografia: filipe sousa | 2 junho 2022 |
Não faltam epítetos a Bolonha. «Dotta», «turrita», «città dei portici», «grassa», «rossa». Mas vamos por partes.
«La dotta»: criada em 1088, a universidade de Bolonha é a mais antiga da Europa, continuando a ser uma referência pela qualidade do ensino e pela sua integração na vida da cidade.
«La turrita»: hoje são menos de vinte (incluindo as torres Asinelli, a maior, com 96 metros, e Garisenda, a mais inclinada), mas, no tempo de Dante, Bolonha chegou a ter 180 torres apontadas ao céu.
«La città dei portici»: são cerca de 40 quilómetros de pórticos e arcadas, que fazem de Bolonha a maior cidade coberta da Europa.
«La grassa»: sempre se comeu muito e bem em Bolonha, considerada a capital gastronómica de Itália.
«La rossa»: as cores dos telhados e fachadas em declinações de vermelho e ocre, mas também o vermelho dos automóveis Ferrari e Maserati e das motos Ducatti, produzidos na região, e ainda o facto de ser o bastião da esquerda em Itália.
Foram estas as coordenadas do meu périplo de dois dias pela cidade de Pasolini (este ano comemora-se o centenário do seu nascimento), facilitado ontem pela ausência de carros nas ruas devido à celebração do Dia Nacional de Itália, a «Festa della Repubblica Italiana».
«Cidade dos quatro cognomes - «dotta» (sábia), «turrita» (que tem torres), «città dei portici» (cidade das arcadas), «grassa» (gorda) - Bolonha é sedutora, feminina, macia. Aceitem-se os lugares comuns, que melhor dizem que mil palavras raras. E é também uma cidade muito velha que cometeu o milagre de fixar as suas antiguidades, defendendo-as da rasoira do turista, que tudo uniformiza: veja-se a Casa Isolani, uma habitação particular da Strada Maggiore, datada do século XII, onde vivem pessoas e onde o turista, felizmente, não é admitido. Fico também a pensar, a imaginar o que seria a Bolonha que Dante viu, por alturas de 1287, com as suas cento e oitenta torres nobiliárias, disputando em altura e primazia.»
José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia - Ensaio de romance, 1ª edição, Moraes Editores, Lisboa, p. 183.
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