fotografia: filipe sousa | agosto 2006 |
fotografia: filipe sousa | agosto 2006 |
fotografia: filipe sousa | agosto 1990 |
fotografia: filipe sousa | 16 fevereiro 2022 |
«Dois anos antes, na minha primeira visita a Paris, eu perdera-me de amores pelo métro. Aquilo transportava uma pessoa pela cidade sem a fúria e o tumulto do metropolitano de Nova Iorque, que parecia estar sempre empenhado numa corrida contra o tempo. No metropolitano uma pessoa tinha a compulsão de olhar para o seu relógio; no métro, uma pessoa em vez disso procurava o DUBO-DUBON-DUBONNET. O cheiro do metropolitano nova-iorquino era o de metal quente misturado com esgotos portuários; o métro exalava um odor característico que se escapava das estações para a rua. Eu nunca cheirara aquela fragrância particular em mais lado algum, e para mim aquilo era um símbolo de Paris. Anos mais tarde, numa droguerie de Tânger descobri um desinfetante que vinha em três perfumes diferentes: Lavande, Citron e Parfum du Métro.»
Paul Bowles, «17 Quai Voltaire» (1931-1932), Viagens - Compilação de Escritos, 1950-1993 (Travels - Collected Writings, 1950-1993), trad. Jorge Pereirinha Pires, Quetzal Editores, Lisboa, 2013, p. 20.
fotografia: filipe sousa | 8 gosto 2022 |
José Manuel Fernandes, Maurício de Abreu, O Homem e o Mar - o litoral português, Círculo de Leitores, 1987, p. 140.
fotografia: filipe sousa | 8 agosto 2022 |
A manhã de ontem surgiu e manteve-se velada, camoniana, durante a travessia da serra: «(…) anda a névoa cega / sobre os montes da Arrábida viçosos, / enquanto a eles a luz do sol não chega.» Depois veio a tarde corroborar Camões e iluminar de vez «essa nesga mediterrânica entre terras e águas atlânticas», Orlando Ribeiro dixit. De facto, ao avistar o areal da Figueirinha a partir do convento franciscano foi como se tivesse visto, por instantes, Palombaggia ou algum paraíso de férias das ilhas gregas, com as suas enseadas escondidas e águas azul-turquesa.
«Com os enrugamentos calcários cavalgantes sobranceiros ao litoral, despenhando-se por escarpas brutais num mar de rara serenidade, franjada de baías luminosas fechadas por promontórios intransponíveis, a Arrábida é o único troço verdadeiramente mediterrâneo da costa portuguesa: tanto pela arquitectura do terreno, dobrado e cortado de grandes deslocações, como pelas águas tépidas, tranquilas e abrigadas, que mais parecem de um mar interior.»
Orlando Ribeiro, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico (1ª ed. 1945), 5ª ed., Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1987, p. 125.