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fotografia: filipe sousa | 16 fevereiro 2022 |
Foram as memórias de Paul Bowles da sua estada em Paris (1931-1932) que me conduziram até ao Perfume do Metro (Parfum du Métro), de que nunca ouvira falar. Aspergida a partir dos próprios comboios, a fragrância servia para amenizar o cheiro a borracha queimada, suor e esgotos acumulado nos subterrâneos da Cidade Luz. A eficácia do perfume surge bem demonstrada no final deste filme promocional dos anos 50: https://www.youtube.com/watch?v=8tPiSj2-7Fw Não faltam referências sugestivas às “estações odoríferas” do metro parisiense: Lilas, Jasmin, Bel-Air. Depois de um interregno, sem perfume, a RATP (Régie Autonome des Transports Parisiens) resolveu recentemente, no final dos anos 90, retomar a ideia e testar uma fragância chamada "Madeleine", composto de limão, lavanda, jasmim e almíscar. Com consumos de perto de duas toneladas de perfume por mês, o projecto revelou-se insustentável e voltou a ser abandonado. Hoje em dia, ao que pude apurar, tenta manter-se um cheiro aceitável no métro de Paris através de limpeza regular das estações e tratamento das infiltrações nos túneis. Com diferentes graus de sucesso...
«Dois anos antes, na minha primeira visita a Paris, eu perdera-me de amores pelo métro. Aquilo transportava uma pessoa pela cidade sem a fúria e o tumulto do metropolitano de Nova Iorque, que parecia estar sempre empenhado numa corrida contra o tempo. No metropolitano uma pessoa tinha a compulsão de olhar para o seu relógio; no métro, uma pessoa em vez disso procurava o DUBO-DUBON-DUBONNET. O cheiro do metropolitano nova-iorquino era o de metal quente misturado com esgotos portuários; o métro exalava um odor característico que se escapava das estações para a rua. Eu nunca cheirara aquela fragrância particular em mais lado algum, e para mim aquilo era um símbolo de Paris. Anos mais tarde, numa droguerie de Tânger descobri um desinfetante que vinha em três perfumes diferentes: Lavande, Citron e Parfum du Métro.»
Paul Bowles, «17 Quai Voltaire» (1931-1932), Viagens - Compilação de Escritos, 1950-1993 (Travels - Collected Writings, 1950-1993), trad. Jorge Pereirinha Pires, Quetzal Editores, Lisboa, 2013, p. 20.
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