fotografia: filipe sousa | 31 agosto 2019 |
Cem anos do nascimento de Eugénio de Andrade! (19 Janeiro 1923).
Metamorfoses da Casa
Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.
A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.
Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.
Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.
Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.
Eugénio de Andrade, «Ostinato Rigore» (1963-1965), in Poesia e Prosa (1940-1980), 2ª ed. Limiar, Porto, s.d., pp. 123-124.
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