fotografia: filipe sousa | outubro 1992 |
Esta fotografia tem mais de 30 anos.
De que falam elas, as vizinhas, na esquina da Terceira Rua da Mouraria com a Rua do Cordovil, em Moura?
Teócrito, que viveu entre 310 a.C. e 250 a.C., pode ter a solução.
Um clássico intemporal.
As Siracusanas (Idílio XV)
(...)
GORGO
Ai desta vida desgraçada! A custo me salvei até vós,
Proxínoa, de tanta multidão, de tantas quadrigas!
Por toda a parte calçado militar, por toda a parte homens de capa.
Mas que caminho interminável. Tu vives sempre cada vez mais longe.
PRAXÍNOA
Isso é aquele louco. Veio para o fim do mundo e comprou
um covil - pois isto não é uma casa - para que não fôssemos vizinhas
uma da outra, por despeito, mau e invejoso: sempre o mesmo.
GORGO
Não fales assim do teu marido, querida, do Dínon (...)
PRAXÍNOA
Pois esse (...) há dias ((...) eu digo-lhe:
«(...) vai à loja comprar nitrato e tinta vermelha»)
trouxe-me sal, esse homem de treze côvados.
GORGO
O meu é a mesma coisa. Dioclides é a ruína do dinheiro.
Sete dracmas de pelos de cão, restos de alforges velhos,
cinco peles comprou ele ontem, tudo uma porcaria, trabalho sobre
trabalho.
Mas vai, põe o vestido e a tua capa.
Vamos para o palácio do afortunado rei Ptolomeu,
para vermos o Adónis. Ouço dizer que algo de belo
a rainha preparou.
PRAXÍNOA
Em casa de rico tudo é rico.
GORGO
As coisas que vires, poderás contá-las a quem não viu.
Está na hora de irmos.
Teócrito (310 a.C.-250 a.C), As Siracusanas (Idílio XV), frag. 4-26, trad. do grego por Frederico Lourenço, Poesia Grega, Quetzal, Lisboa, 2020, pp. 327-331.
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