Bordeaux / Bordéus, Rue Cornac / Rue Notre Dame

fotografia: filipe sousa | 8 janeiro 2020



























«-Mas, afinal, de que acampamento está a falar?... - Dupont.
-Ah! Perdão!... Nesse ponto, não concordo consigo!... São autênticos ciganos!... Vi-os como o estou a ver a si, jovem! - Girassol.
-Oiçam lá, o vosso Girassol não estará um pouco... Ham... Não?... Não pára de falar num acampamento de ciganos... - Dupond.
-Mas, é verdade! Há um acampamento de ciganos aqui perto... - Haddock.
-O quê? É verdade?... Não nos podia ter dito isso há mais tempo? Eis os culpados!... sem sombra de dúvida!... - Dupond.
-Mas porquê? Que provas tem?... - Tintim.
-Provas?... Nós as encontraremos! Aqueles indivíduos são todos ladrões!... Ah! Isto vai ser rápido!... Vamos, leve-nos a esse acampamento! - Dupond.
-Está bem! De boa vontade... Mas, lá porque são ciganos, não tem o direito de suspeitar deles. - Tintim.
-Aliás, muito me espantaria que eles ainda lá estivessem! Devem ter-se raspado depois do golpe... - Dupond.
-Não acredito nisso! - Tintim.
-Então, esse acampamento?... - Dupond.
-OH! - Tintim.
-Então? - Dupont.
-Fo-foram-se embora! E, no entanto, ainda ontem à noite os vi... - Tintim.
-Hem!... O que é que eu lhe disse? Não foi que eles se teriam raspado?... - Dupont.
-Mas não irão longe!... - Dupond.
-...Repito: ordem a todas as brigadas da polícia para interceptarem uma caravana de ciganos que partiu, há algumas horas, de Moulinsart com destino desconhecido... - polícia na esquadra.
Dois dias depois... 
-"O inquérito sobre o roubo de que foi vítima Bianca Castafiore prossegue. Etc... etc... Ah!... Os ciganos sobre quem pesam fortes suspeitas foram postos sob vigilância. No entanto, nos meios judiciários mantem-se a maior discrição sobre este caso que..." - Tintim lendo uma notícia de jornal.
-Coitados!... Eu continuo persuadido da sua inocência. - Tintim.
-Eu, também punha as mãos no fogo, mas... - Haddock.
(...)
-Nós viemos apenas por descarga de consciência... Aaah por abuso de consciência, porque, na verdade, não vemos o que mais ele nos poderá dizer a esse respeito. Duma vez por todas, foram os ciganos, ajudados pelo macaco, que deram o golpe! - Dupond.
-Direi mesmo mais: o caso é claro. É a minha opinião e partilho-a... - Dupont.
-A única coisa que Tintim nos poderia revelar é o local onde a jóia está escondida... É isso... - Dupont.
-Pois bem! É isso mesmo, meus senhores, que, se me quiserem acompanhar, vos irei mostrar! - Tintim.
-Você? - Haddock.
-Não!!! - Dupont.
-Sim??? - Dupond.
-Descobriu o sítio onde os ciganos esconderam a esmeralda?... - Haddock.
-Os ciganos nada esconderam!... - Tintim.
-Olhem lá para cima!... é ali que se encontra, com certeza, a chave do mistério!... - Tintim.
-Lá em cima? - Dupont.
-Lá em cima, onde? - Dupond.
-Sim, lá em cima onde? - Haddock.
-Lá em cima, naquele choupo... - Tintim.
-Naquele choupo? Tudo o que eu vejo é um ninho! - Haddock.
-Sim, mas é um ninho de pega, capitão... - Tintim.
-O quê?...Quer dizer que... - Haddock.
(Os Dupont/d batem com as cabeças nas árvores do bosque e estatelam-se)
-Que foi uma pega que roubou a esmeralda! Sim, sou capaz de pôr a mão no fogo!... - Tintim.
-? - Haddock.
-Raios e coriscos! Então é para trepar até ao ninho que foi buscar o material do tio Vanneau?... - Haddock.
-Exactamente! - Tintim.
-Tintim! Por favor, tenha cuidado!... - Haddock.
-Sim... - Tintim.
-HÉ-É-ÉK! - pega.
-Por amor de Deus, Tintim, seja prudente!... - Haddock.
-Esteja sossegado, eu... - Tintim
CRAC - um ramo parte-se.
-Cuidado, aí!... Partiu-se um ramo!... - Tintim. 
(Na fuga, os Dupont/d batem de novo com as cabeças nas árvores e voltam a estatelar-se)
-Não aconteceu nada de mal!... E você, encontrou alguma coisa?... Haddock.
-Sim, aqui está o dedal de Irma!... - Tintim.
-E A ESMERALDA! AQUI ESTÁ A ESMERALDA!... - Tintim.
-Bocados de vidro!... Um berlinde de ágata... Um monóculo... É tudo... vou descer. - Tintim.
-Hê-ê-ék! Ladrão! - pega.
-Magnífico!... Tintim, você é um ás!... Mas por que razão se lembrou de repente da pega? - Haddock.
-Qual era o título da ópera de que o jornal falava há bocado? - Tintim.
-Eu já não sei... Qualquer coisa como "pizza" ou "ragazza"... - Haddock.
-La "Gazza Ladra", o que quer dizer: a pega ladra!... Para mim, foi a luz! - Tintim.
-Disse para comigo mesmo: "Há uma gazza ladra nas imediações! Onde?... Junto do sítio onde a tesoura, caída do ninho da gatuna, foi encontrada pela pequena Mirka"... Fui a correr ver nesse sítio: havia um ninho!... E eis os ciganos fora da questão! - Tintim.
-Já é pouca sorte nossa! Da única vez que tínhamos encontrado os culpados, arranjaram maneira de os ilibar!... - Dupont, com o olho negro.
-É verdade, realmente parece que fazem de propósito!... - Dupond, com o olho negro.»

Hergé, As Jóias de Castafiore  (Les bijoux de la Castafiore, 1961/1962), Difusão Verbo, Bélgica, 2000, pp. 47, 48, 58, 59, 60.

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