fotografia: filipe sousa | 15 setembro 2020 |
Os números impressionam. Doze toneladas de areia, 25 toneladas de rocha vulcânica, 78 troncos de árvores, 40 espécies de peixes tropicais de água doce, 46 espécies de plantas aquáticas e o envolvimento de 90 pessoas de 6 nacionalidades diferentes para criar o maior aquário de natureza do mundo, com 160 m3 de volume, 40 m de comprimento, 2,5 m de largura e 1,45 m de altura. Mas mais impressionante é a genialidade do criador desta obra de arte inspirada na natureza, o japonês Takashi Amano (1954-2015). Integrada na exposição Paisagens Submersas, patente no Oceanário de Lisboa, recria as florestas tropicais do planeta, seguramente dos habitats mais ameaçados, apesar da sua importância ecológica: mais de metade da biodiversidade existe aqui.
Enquanto fotógrafo da natureza, Takashi viajou pelas florestas do mundo em busca da harmonia das paisagens pristinas. Tornou-se mestre internacional de aquariofilia de água doce com a criação de aquários plantados. Concilia nas suas obras técnicas de jardinagem com o conceito japonês "wabi sabi", que define a beleza como impermanente, imperfeita e incompleta: nada dura, nada está acabado e nada é perfeito.
Mais de 3 milhões de pessoas já visitaram a exposição desde a sua inauguração e ontem foi a minha vez. Por breves 30 segundos tive o privilégio de ficar sozinho na sala, numa experiência de contemplação única, embalado pela música original de Rodrigo Leão.
A propósito de jardinagem e da estética "wabi sabi", a evocação, por um conhecido compatriota de Takashi, o poeta e viajante Matsuo Bashô, que viveu no século XVII, da paisagem de Matsushima, «a mais formosa do Japão», com a assinatura de um outro jardineiro maior ou Deus da Montanha.
«Já é um lugar comum dizê-lo: a paisagem de Matsushima é a mais formosa do Japão. Não é inferior às de Doteiko e Seiko na China. O mar penetra a partir de sudeste numa baía de aproximadamente três "ri", transbordante como o rio Sekiko da China. É impossível contar o número das ilhas: uma quase toca o céu, outra apresenta-se estendida, a boca debaixo das ondas; aquela parece desdobrar-se e, a mais afastada, divide-se em três; algumas, vistas da direita parecem ser uma só e vistas do lado contrário multiplicam-se. Há umas que parecem levar um menino às costas; outras é como se o levassem ao colo, algumas parecem mulheres acariciando o seu filho ou o seu neto. O verde dos pinheiros é sombrio e o vento salgado dobra sem cessar as suas ramagens, de maneira que as suas linhas curvas parecem obra de um jardineiro. A cena tem a fascinação misteriosa de um rosto formoso.
Dizem que esta paisagem foi criada pelo Deus da Montanha, na época sagrada. Nem pincel de pintor, nem pena de poeta podem descrever as maravilhas do céu.»
Matsuo Bashô, O caminho estreito para o longínquo Norte (Oku no Hosomichi, 1691), trad. Jorge de Sousa Braga, 2ª ed., Fenda Edições, Lisboa, 1995, pp. 31-32.
Dizem que esta paisagem foi criada pelo Deus da Montanha, na época sagrada. Nem pincel de pintor, nem pena de poeta podem descrever as maravilhas do céu.»
Matsuo Bashô, O caminho estreito para o longínquo Norte (Oku no Hosomichi, 1691), trad. Jorge de Sousa Braga, 2ª ed., Fenda Edições, Lisboa, 1995, pp. 31-32.
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