fotografia : filipe sousa | 16 Junho 2023 |
Dia 4: Tessalónica - Igoumenitsa
Quatro horas e meia, o equivalente a trezentos e vinte quilómetros, foi quanto o autocarro demorou para ligar o mar Egeu ao mar Jónico, o mesmo é dizer Tessalónica a Igoumenitsa, cruzando as regiões de Macedónia e Epiro. Um percurso montanhoso, ora atravessando túneis ora sobre as nuvens, com a morada dos deuses à esquerda (Olimpo) e a dos ursos-pardos à direita, a julgar pelo número invulgar de sinais de trânsito que nos alertam para a sua presença ao longo de florestas a perder de vista.
Sob chuva tocada a vento, às vezes copiosa, vi-me grego para chegar ao destino, perto da fronteira entre a Grécia e a Albânia. Só descansei na descida para Igoumenitsa, com a aparição das primeiras oliveiras e dos primeiros raios de sol.
Nada comparável com a tormenta que Ulisses enfrentou, instigada pelo irascível Poseidon, e o fez naufragar não longe daqui, junto à ilha dos Feácios.
É para lá que me dirijo agora, a bordo do ferry Corfu Spirit.
«Durante dezassete dias naveguei sobre o mar;
no décimo oitavo dia apareceram as montanhas sombrias
da vossa terra: alegrou-se à sua vista o coração deste homem
malfadado: pois na verdade eu estavas prestes a sofrer algo
de terrível que contra mim mandara Posídon, Sacudidor da Terra.
Agitou os ventos, assim atando o meu percurso; encrespou
o mar de modo indizível, a ponto de as ondas não deixarem
que eu fosse levado, gemendo sem cessar, pela jangada,
que seria despedaçada pela tempestade. Mas eu atravessei
a nado o grande abismo do mar, até que atingisse
a vossa terra, levado pelo vento e pelo mar.
Mas ao tentar sair da água, as ondas atiravam-me contra a costa,
contra os grandes rochedos, sítio que nada tinha de aprazível.
Recuei e pus-me de novo a nadar, até que cheguei a um rio, que me pareceu o melhor sítio:
livre de rochas; abrigado do vento.»
no décimo oitavo dia apareceram as montanhas sombrias
da vossa terra: alegrou-se à sua vista o coração deste homem
malfadado: pois na verdade eu estavas prestes a sofrer algo
de terrível que contra mim mandara Posídon, Sacudidor da Terra.
Agitou os ventos, assim atando o meu percurso; encrespou
o mar de modo indizível, a ponto de as ondas não deixarem
que eu fosse levado, gemendo sem cessar, pela jangada,
que seria despedaçada pela tempestade. Mas eu atravessei
a nado o grande abismo do mar, até que atingisse
a vossa terra, levado pelo vento e pelo mar.
Mas ao tentar sair da água, as ondas atiravam-me contra a costa,
contra os grandes rochedos, sítio que nada tinha de aprazível.
Recuei e pus-me de novo a nadar, até que cheguei a um rio, que me pareceu o melhor sítio:
livre de rochas; abrigado do vento.»
Homero, Odisseia, canto VII, vs. 267-282, trad. Frederico Lourenço, Livros Cotovia, Lisboa, 2003, pp. 123-124.
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