Ιόνιο Πέλαγος / Mar Jónico

fotografia: filipe sousa | 16 junho 2023

 

















Dia 4: Igoumenitsa-Ilha de Corfu
O ferry zarpa do porto de Igoumenitsa com a proa apontada à ilha de Corfu. São dezoito milhas náuticas entre um ponto e outro, no mar Jónico, que se vencem em uma hora e meia de tranquila navegação. Uma viagem de sonho, por que esperei a vida inteira.
À medida que os contornos das ilhas de Paxos e Antípaxos, à esquerda, se vão esfumando na distância, a costa leste de Corfu e as montanhas albanesas começam a desenhar-se no horizonte, num crescendo de nitidez. Mais a sul, fica o penhasco da ilha de Lefkada, de onde Safo saltou para a eternidade. E mais a sul ainda, adivinha-se Ítaca, com a sua aura de lenda homérica.
Entretanto, o tempo dá sinais de querer mudar de novo. Céu e mar fundem-se na mesma cor de chumbo e a chuva é uma inevitabilidade à entrada da cidade de Corfu. Tornando os ocres e os rosas dos edifícios venezianos ainda mais brilhantes, como numa pintura renascentista.
A partir do momento em que piso a ilha, sei que tenho dois dias bem contados para pôr o meu plano em prática: visitar o Achilleon, o palácio de Elisabeth, imperatriz da Áustria, mais conhecida por Sissi, deambular pela cidade de Corfu, na peugada dos Durrell, visitar a Casa Branca onde viveram e também Paleocastrizzia e Kassiopi, conhecer algumas praias paradisíacas, banhar-me nas suas águas transparentes, cor de safira, e abraçar as oliveiras colossais da ilha, convocando Edward Lear e as suas aguarelas. Como alguém disse: estar em Corfu ultrapassa o estado de felicidade; é a ventura absoluta! A descrição de Lawrence Durrell não podia ser mais apropriada à ocasião:

«(...) à frente do navio está a terra e à direita a corcova duma ilha. A ilha é fácil de identificar - aquelas montanhas imponentes, polidas como peças de fruta numa loja, são albanesas. São grandes e calvas, com as cores quentes que o sol lhes dá ao elevar-se com esforço por cima dos ombros delas para brilhar sobre o mar. Corfu jaz como uma foice pousada junto aos flancos do litoral continental e forma uma baía grande e tranquila que se estreita em ambas as extremidades, de modo que as marés espremem-se e acalmam-se ao entrarem nela. (...) gradualmente o canal principal torna-se visível, e com ele o antigo farol veneziano que indica os baixios. Agora o navio vira abruptamente, com se rodasse nos calcanhares, e aponta a sul, deixando a Albânia à sua esquerda. À direita é o canal, tão estreito que as primeiras aldeias estão, ou parecem estar, apenas a umas centenas de metros de distância. De facto, no seu ponto mais estreito, o extremo norte de Corfu está separado da Albânia apenas por dois quilómetros de mar.»

Lawrence Durrell, As Ilhas Gregas (The Greek Islands, 1978), trad. Carlos Leite, Relógio d'Água Editores, Lisboa, 2016, pp. 21-22.     

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