fotografia: filipe sousa | 23 novembro 2022 |
Hólar.
Lugar remoto no norte da Islândia, perdido no mapa. Ainda assim, com uma população que ronda os cem habitantes, uma verdadeira multidão para o padrão demográfico e tipo de povoamento do interior da ilha.
A existência de uma igreja, rodeada por cemitério, e de uma universidade, mais o respectivo campus, neste vale profundo de Hjaltadalur, entre montanhas castanhas com neve nos cumes, não deixa de surpreender mesmo o mais prevenido dos forasteiros, como é o meu caso. É aqui que passarei os próximos três dias, isolado do mundo, entre céus azuis cristalinos e tempestades de neve.
Maravilha!
Curiosidade histórica: O bispado de Hólar foi fundado em 1106, nos primórdios do cristianismo na Islândia, para servir a parte norte da ilha, enquanto a parte sul era servida pelo bispado de Skálholt. A construção da primitiva igreja é, no entanto, anterior, datando do século XI. No século seguinte, foi fundado um seminário em Hólar, uma das primeiras instituições de ensino europeias. O seminário extinguiu-se em 1801, quando os dois bispados se juntaram, passando o único bispo a residir em Reykjavík. A igreja actual de Hólar foi construída entre 1759-1763, tendo sido utilizado arenito vermelho das montanhas vizinhas na sua construção. Os templos anteriores eram construções de madeira, com excepção de um de pedra, no século XIV, que nunca foi concluído. Desde 1882, Hólar é sede de uma Escola Superior de Agricultura, renomeada Universidade de Hólar, em 2007. Actualmente, são ministrados cursos de licenciatura e pós-graduação em Estudos Equinos (Hólar é um importante pólo de criação de cavalos islandeses), Aquacultura e Biologia de Peixes e Turismo Rural.
«Em cima dum pequeno monte na charneca estão os restos duma pequena quinta.
Talvez esse monte não seja, num sentido estrito, mais do que uma obra da natureza, talvez tenha sido obra de lavradores há muito falecidos que construíram aqui as suas quintas nas margens verdejantes do riacho, geração após geração, umas por cima das ruínas das outras. Ainda hoje continua a existir um curral para cordeiros, ali, onde há séculos atrás se ouviram ovelhas e crias a balir durante cem primaveras. Afastados do monte e do curral, especialmente para sul, estão espalhados prados amplos com ilhotas de urze, e através do espinhaço de Randsmyri corre um pequeno riacho e outro do lago para leste, pelos vales da charneca oriental. A norte do monte eleva-se uma montanha íngreme, as suas encostas estão marcadas por derrocadas e nas fendas existem relevos cobertos de urze. Das derrocadas erguem-se imponentes rochas escarpadas, e num certo lugar por cima do curral a montanha está rachada, tem uma fenda no basalto, e desta irrompe na Primavera uma cascata comprida e fina. E às vezes o vento do sul sopra na cascata, pulveriza a água para cima da borda da montanha e parece que a queda de água corre para trás. Debaixo da montanha estão pedregulhos espalhados por todo o lado.»
Talvez esse monte não seja, num sentido estrito, mais do que uma obra da natureza, talvez tenha sido obra de lavradores há muito falecidos que construíram aqui as suas quintas nas margens verdejantes do riacho, geração após geração, umas por cima das ruínas das outras. Ainda hoje continua a existir um curral para cordeiros, ali, onde há séculos atrás se ouviram ovelhas e crias a balir durante cem primaveras. Afastados do monte e do curral, especialmente para sul, estão espalhados prados amplos com ilhotas de urze, e através do espinhaço de Randsmyri corre um pequeno riacho e outro do lago para leste, pelos vales da charneca oriental. A norte do monte eleva-se uma montanha íngreme, as suas encostas estão marcadas por derrocadas e nas fendas existem relevos cobertos de urze. Das derrocadas erguem-se imponentes rochas escarpadas, e num certo lugar por cima do curral a montanha está rachada, tem uma fenda no basalto, e desta irrompe na Primavera uma cascata comprida e fina. E às vezes o vento do sul sopra na cascata, pulveriza a água para cima da borda da montanha e parece que a queda de água corre para trás. Debaixo da montanha estão pedregulhos espalhados por todo o lado.»
Halldór Laxness, Gente independente (Sjálfstætt fólk, 1934-1935), trad. Guolaug Rún Margeirsdóttir, Cavalo de Ferro, Lisboa, 2007, pp. 14-15.
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