fotografia: filipe sousa | 21 novembro 2022 |
«Prólogo
Deixemos algo bem claro antes de avançarmos e nos
embrenharmos no que não compreendemos, no que não toleramos mas desejamos,
naquilo que tememos e em simultâneo esperamos alcançar, e é importante
clarificarmos isto para termos alguma coisa a que nos agarrar: estamos em
Keflavík. Uma vila idiossincrática e remota, com poucos milhares de habitantes,
um porto vazio, desemprego, stands de automóveis, carrinhas de comida de rua,
uma povoação tão plana que, vista do céu, mais se assemelha a um mar estático.
Em manhãs serenas, o Sol nasce como uma erupção vulcânica silenciosa. Vemo-lo
quando o seu fogo surge atrás das montanhas distantes, como se algo gigantesco
se erguesse das profundezas. É uma força capaz de içar o céu e alterar tudo,
vemo-la quando a noite escura dá lugar ao fogo. Depois o Sol ergue-se. Ao
início, como uma erupção vulcânica que varre as estrelas no céu, esses cães
amistosos, e ascende majestosamente acima da península de Reykjanes. O Sol
ergue-se devagar, e nós estamos vivos.»
Jón Kalman Stefánsson, Aproximadamente do tamanho do universo (Eitthvaó á stoeró vió alheiminn, 2013), trad. João Reis, Cavalo de Ferro, Lisboa, 2020, p. 9.
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