Roskilde, Vindeboder 12

Antes de rumar ao norte da Sjaelland (Zelândia), impunha-se uma paragem em Roskilde, a escassos trinta quilómetros a oeste de Copenhaga. O Vikingeskibsmuseet (Museu dos Barcos Vikings) justificava, e de que maneira, o desvio. Nessa altura, em 2001, em que investigava sobre as origens e o processo construtivo do Barco de Tábuas do Guadiana, a visita era uma oportunidade, caída dos céus, para consolidar algumas ideias sobre o tema. Acima de tudo, o que encontrei foi um museu didáctico, funcional, bonito e vivo!
No exterior, à beira de água, um vasto estaleiro acolhia uma dezena de réplicas fiéis de embarcações, em construção e prontas a navegar. Usadas em passeios turísticos ao largo do fiorde, ajudam à recriação da saga e dos feitos vikings, sobretudo no período áureo da Alta Idade Média, em regiões tão longínquas do hemisfério norte como as que fazem parte da América do Norte, da Europa de Leste, da Ásia Central ou do Mediterrâneo ocidental. 
Dentro do museu, algumas jóias da coroa, como o elegante Gokstad, do século XI, que se deslocava com recurso a trinta e dois remadores, além de velas quadrangulares. Da colecção fazem ainda parte outros exemplares originais de barcos nórdicos e vikings, a maior parte encontrada submersa no fiorde de Roskilde. Basicamente, carcaças reconstruídas de embarcações de carga, transporte de pessoas, especialmente guerreiros, e usadas em rituais fúnebres. 
Em todos estes exemplares, um denominador comum salta à vista, no que ao princípio de construção diz respeito. Como viemos confirmar, na tradição construtiva de origem viking ou norte-europeia, o forro  exterior do casco da embarcação é montado anteriormente à armação do cavername (princípio "shell-first"), com a particularidade de ser imbricado ou construído em trincado, isto é, formado por tábuas que se sobrepõem como escamas ou telhas. De referir que o barco rabelo é provavelmente o mais conhecido  representante luso desta Escola de construção naval, reflexo dos contactos antigos entre o norte da Europa e o norte do País. Em contraste com a tradição construtiva ibero-atlântica e do mediterrâneo ocidental, que assenta no papel determinante do cavername ou "esqueleto" na coesão e solidez da estrutura do casco da embarcação, sendo o tabuado levantado posteriormente (princípio "skeleton-first"), de que são exemplos a caravela portuguesa e também, a continuação da investigação ajudaria a corroborar a teoria, o barco de tábuas do Guadiana. 
Recomenda-se uma visita virtual ao museu, que este ano comemora meio século de existência, em https://www.vikingeskibsmuseet.dk/andre-sprog/portugues/


fotografia: filipe sousa | agosto 2001 

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