Paris, Notre-Dame

«A Françoise, quando eu lhe falava de uma igreja de Milão - cidade aonde provavelmente nunca iria - ou da catedral de Reims, ou mesmo da de Arras - que não poderia ver, já que estavam mais ou menos destruídas -, invejava os ricos que podem dar-se ao luxo do espectáculo de tesouros assim, e exclamava num nostálgico lamento: «Que belo que devia ser!» - ela que, vivendo agora em Paris havia tantos anos, nunca tivera curiosidade  de ir ver Notre-Dame. É que Notre-Dame, precisamente, fazia parte de Paris, da cidade onde decorria a vida quotidiana da Françoise e onde por consequência era difícil para a nossa velha criada - como o seria para mim se o estudo de arquitectura me não tivesse corrigido em certos pontos os instintos de Combray - situar os objectos dos seus sonhos.»

Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido - O Tempo Reencontrado (À la Recherche du Temps Perdu - Le Temps Retrouvé, 1927), trad. Pedro Tamen, Relógio d'Água, Lisboa, 2005, vol. VII, p. 157.


fotografia: clara lourenço | 29 fevereiro 2012

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