-Para o sul, comandante.
-Na costa de Venezuela?
-Creio que sim!
-A que distância?
-Cinco ou seis milhas?
O Corsário Negro debruçou-se no varandim e lançou esta ordem: - Homens à coberta!
Em menos de meio minuto os cento e vinte corsários que constituíam a tripulação do Relâmpago estavam todos a postos.
Aqueles piratas reunidos no Golfo do México, de todas as partes da Europa e recrutados entre a pobre canalha dos portos do mar da França, Itália, Holanda, Alemanha e Inglaterra, gente com todos os vícios, mas nada preocupados com a morte e capazes dos maiores heroísmos e das mais incríveis audácias nas naus corsárias, tornavam-se mais submissos do que cordeiros até se transformarem em tigres no combate.
Bem sabiam que o seu comandante não deixaria impune qualquer descuido e que a mais leve indisciplina seria castigada com um tiro de pistola na cabeça ou pelo menos com o abandono em alguma ilha deserta.
Quando o Corsário Negro viu todos os seus homens a postos, observando-os quase um a um, voltou-se para Morgan, o qual esperava ordens:
-Achas que aquele navio será?...-perguntou-lhe.
-Espanhol, senhor - respondeu logo o imediato.
-Espanhóis! - exclamou o Corsário Negro com voz cava. -Será uma noite terrível para eles, e muitos não chegarão a ver o sol de amanhã.
-Assaltaremos aquele navio esta noite, senhor?
-Sim, metê-lo-emos a pique. No fundo do mar dormem os meus irmãos, mas não dormirão sós.»
Emilio Salgari, O Corsário Negro (Il Corsaro Nero, 1898), trad. A. Duarte de Almeida, Clube do Autor, Lisboa, 2010, pp. 112-113.
fotografia: filipe sousa | 10 abril 2018 |
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