Algures entre Amieira e São Marcos do Campo

fotografia: filipe sousa | 10 abril 2016



























O MELHOR PRETEXTO

É tão frágil a vida,
tão efémero tudo!
(Não é verdade, amiga,
Olhinhos-cor-de-musgo?)

E ao mesmo tempo é forte,
forte da veleidade 
de resistir à morte
quanto maior a idade.

Assim, aos trinta e sete,
fechados alguns ciclos,
a vida ainda pede
mais sentimento, vínculos.

Não tanto os que nos deram
a fúria de viver,
como esses descobertos
depois de se saber

que a vida não é outra
senão a que fazemos
(e a vida é uma só,
pois jamais voltaremos).

Partidários da vida,
melhor: do que está vivo,
digamos «não!» a tudo
que tenha outro sentido.

E que melhor pretexto
(quem o saiba que o diga!)
teremos p'ra viver 
senão a própria vida!

Alexandre O'Neill, Poesias Completas (Poemas com endereço, 1962), 3ª ed., Assírio & Alvim, Lisboa, 2002, pp. 184-185.

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