I
No seu grave recanto, os jogadores
Regem as lentas peças. O tabuleiro
Os demora até à alba em seu severo
Âmbito em que se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores
As formas: torre homérica, ligeiro
Cavalo, sagaz dama, rei postreiro,
Oblíquo bispo e peões agressores.
Depois dos jogadores se terem ido,
Depois do tempo os ter consumido,
Decerto não terá cessado o rito.
No oriente incendiou-se esta guerra
Cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como o outro, este jogo é infinito.
Jorge Luís Borges, O Fazedor (El Hacedor, 1960), trad. Miguel Tamen, 4ª ed., Difel, Lisboa, 2002, p. 65.
fotografia: filipe sousa | 26 junho 2017 |
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