Berlin / Berlim, Pariser Platz, Brandenbourg Tor (Porta de Brande(m)burgo)

«Bernard disse ao taxista que nos levasse para a Porta de Brandeburgo, mas isso revelou-se um erro, e então comecei a perceber o que a vizinha de Gunter quisera dizer. Havia demasiada gente e demasiado trânsito. As estradas habitualmente movimentadas suportavam uma carga de Warburgs e Trabants a vomitar fumo, na sua primeira noite de visitas turísticas. Os passeios também estavam apinhados. Agora todos eram turistas, berlinenses dos dois lados, assim como estrangeiros. Bandos de adolescentes de Berlim Ocidental, com latas de cerveja e garrafas de Sekt, passavam pelo nosso carro encalhado, entoando canções futebolísticas. (...)
Desistimos do táxi e fomos a pé. Foram vinte minutos até ao Monumento à Vitória, e a partir daí desenrolou-se à nossa frente o largo acesso da 17 de Junho à Porta. Alguém colocara um bocado de cartão sobre o letreiro da rua e pintara «9 de Novembro». Centenas de pessoas seguiam na mesma direcção. A cerca de 400 m de distância, a porta de Brandeburgo erguia-se, iluminada, parecendo demasiado pequena, demasiado atarracada, para a sua importância global. (...)
Quando chegámos à barreira, Bernard apontou para um agente da polícia de Berlim Ocidental que conversava com um oficial do exército da Alemanha Oriental.
-Estão a discutir como controlar a multidão. Já é meio caminho para a unificação.»

Ian McEwan, Cães Pretos (Black Dogs, 1992), trad. Fernanda Pinto Rodrigues, 3ª ed., Gradiva, Lisboa, 2005, pp. 86, 92.


fotografia: clara lourenço | 8 janeiro 2017

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