Helsingor / Elsinore, Castelo de Kronborg

«Momentos depois, a escuna, com a mezena, a brigantina, a gávea e o joanete, tudo aparelhado, fez-se à vela pelo estreito fora. Uma hora mais tarde, a capital da Dinamarca parecia mergulhar nas águas distantes, e a Valkyrie dobrava a costa de Elsinore. Com o nervosismo que me dominava, esperava ver a sombra de Hamlet vagueando pelo terraço lendário.
«Ah, louco sublime!», pensava eu. «Só tu nos aprovarias, sem dúvida! Talvez nos seguisses até ao centro da Terra à procura duma solução para a tua eterna dúvida!»
Mas nada nos apareceu sobre as antigas muralhas. Aliás, o castelo é muito mais recente do que o do heróico príncipe da Dinamarca. Actualmente, serve de habitação sumptuosa ao porteiro do estreito de Sund, local por onde passam por ano quinze mil navios de todas as nações.
O castelo de Krongborg em breve desapareceu na bruma, bem como a torre de Helsingborn, que se ergue sobre a costa sueca, e a escuna inclinou-se ligeiramente, impelida pelas brisas do Categate.»

Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra (Voyage au Centre de la Terre, 1864), trad. Lídia Jorge, Publicações Europa-América, Mem Martins, 2008, p. 51.


fotografia: filipe sousa | agosto 2001



























Lugar: Elsinore, a Corte e lugares envolventes
(...)
«Hamlet, Príncipe da Dinamarca - Ide com ele amigos. Haverá uma representação amanhã. (Ao 1º actor) Ouvi o que vos digo, meu velho amigo. Podeis representar O Assassínio de Gonzaga?
1º Actor - Sim, senhor.
Hamlet - Muito bem. (A todos os actores) Segui aquele senhor, sem vos meterdes com ele. (saem Polónio e os actores)
(Para Rosencrantz e Guildenstern) Meus caros amigos, deixo-vos até logo à noite. Sede benvindos a Elsinore. (...)
Hamlet - À obra, engenho! Hum - ouvi dizer que criaturas culpadas, no teatro sentadas, foram pelo artifício de uma cena tão percutidas na alma que aí mesmo proclamaram alto os seus malefícios. Que o assassínio, embora sem língua, fala com bem miraculoso órgão. Aos actores direi que encenem algo como a morte de meu pai perante meu tio. Vou rondar-lhe a expressão, tenteá-lo até ao nervo. Se o vir estremecer, sei o que tenho a fazer. O espírito que vi pode bem ser demónio, e o demónio é capaz de assumir forma melíflua, sim, e talvez, dada a minha fraqueza e melancolia, sendo potente no uso de tais humores, me iluda para me danar. Hei-de ter razões mais materiais que essa. A peça é coisa com que vou enlaçar a consciência do Rei.»

William Shakespeare, Hamlet (The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke, 1599-1601), edição bilingue, trad. António Feijó, Edições Cotovia, Lisboa, 2001, pp. 103, 105, 107.

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