Marseille / Marselha

«Em Marselha, ficámos chocados por ver pessoas normais fazerem uma careta e declararem-se prontas a liquidar um árabe. Os Marselheses são gente franca que aprecia os prazeres simples da vida. São, felizmente, imunes à arte. A sua cidade é a única metrópole que não exibe a grandeza do seu passado e que não nos oprime com o peso dos seus monumentos. Marselha é igualmente um mil-folhas étnico cujas portas se abriram a todos os géneros de viajantes e imigrantes: anarquistas espanhóis, gregos de Esmirna, marinheiros arménios e africanos - la marine au charbon. Reproduções do retrato de Napoleão pintado por Ingres enfeitam as paredes, como propaganda política, dos cafés corsos do bairro do Panier. Toda a gente sabe que Marselha é uma cidade de bandidos e, outrora, o facto era anunciado com jovialidade. Esta cidade de individualistas está a virar as costas ao mar e a sua nova prosperidade fá-la detestar os estrangeiros, o que a torna mesquinha e desconfiada.»

Bruce Chatwin, «A tristíssima história de Salah Bougrine» (1974) in O que faço eu aqui (What am I doing here, 1989), 2ª ed., trad. José Luís Luna, Quetzal Editores, Lisboa, 1996, pp. 274-275. 


fotografia: clara lourenço | novembro 2017

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