Furnas, Parque Terra Nostra

«-O jardim?
-O jardim dos caminhos que se bifurcam.(...)
Deixo aos vários porvires (não a todos) o meu jardim dos caminhos que se bifurcam. (...)
Quase de imediato compreendi; o jardim dos caminhos que se bifurcam era o romance caótico; a frase vários porvires (não a todos) sugeriu-me a imagem da bifurcação no tempo, e não no espaço. (...) Em todas as ficções, sempre que um homem  se defronta com diversas alternativas, opta por uma e elimina as outras... (...) Cria, assim, diversos porvires, diversos tempos, que também proliferam e se bifurcam. (...)
O jardim dos caminhos que se bifurcam é uma enorme adivinha, ou parábola, cujo tema é o tempo...(...) Ao contrário de Newton e de Schopenhaeur, o seu antepassado não acreditava num tempo uniforme e absoluto. Acreditava em infinitas séries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos, divergentes, convergentes e paralelos. Esta trama de tempos que se aproximam, se bifurcam e se cortam ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades. Nós não existimos na maior parte desses tempos, nalguns deles existe você e eu não; noutros, eu, e não você, noutros ainda, existimos os dois. Neste, que um favorável acaso me proporciona, você chegou a minha casa; noutro, você, ao atravessar o jardim, deu comigo morto; e noutro, eu digo estas mesmas palavras, mas sou um erro, um fantasma.»

Jorge Luís Borges, «O jardim dos caminhos que se bifurcam» in Ficções (Ficciones, 1944), trad. José Colaço Barreiros, Editorial Teorema, Lisboa, 1998, pp. 79-92.


fotografia: filipe sousa | 22 julho 2016

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