Lago Maggiore, Santa Caterina del Sasso

«Fabrício encontrou a mãe e uma das irmãs em Belgirate, grande aldeia do Piemonte, na margem direita do Lago Maior: a margem esquerda faz parte do Milanês e, por consequência, da Áustria. Aquele lago, paralelo ao de Como, e que também corre do norte ao sul, fica situado a umas vinte léguas mais ao poente. O ar das montanhas, a tranquila majestade do soberbo lago, que lhe recordava o da sua infância, tudo contribuía para transformar em doce melancolia o desgosto de Fabrício. Era com ternura infinita que pensava agora na duquesa; parecia-lhe que, de longe, ganhava por ela aquele amor que nunca experimentara por mulher nenhuma... (...)
Fabrício (...) acompanhou a mãe até ao porto de Laveno, na margem esquerda do Lago Maior, margem austríaca, onde ela desembarcou pelas oito horas da tarde. (O lago é considerado um país neutral, e não se pede o passaporte a quem não desce a terra.) Mas, mal a noite caiu, fez-se desembarcar nessa mesma margem austríaca, no meio dum bosquezinho que entra pela água dentro. Alugara uma sediola, espécie de tílburi campestre e rápido, graças ao qual pôde seguir a quinhentos passos de distância a carruagem da mãe: ia disfarçado de lacaio da casa del Dongo, e nenhum dos numerosos funcionários da Polícia ou da alfândega se lembrou de lhe pedir o passaporte.»

Stendhal, A Cartuxa de Parma  (La Chartreuse de Parme, 1839), trad. Adolfo Casais Monteiro, Editorial Estúdios Cor, Lisboa, 1957, pp.138-139.


fotografia: filipe sousa | 25 junho 2004

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