Moura, Rua 5 de Outubro 15 A

«Todas as construções eram bonitas de se ver. Fosse para homens, para burros ou para servir de armazéns, todas tinham o ritmo de curvas desejado que parecia surgir de si próprio quando se desenhava as abóbadas, mas que linhas direitas e tectos planos quase nunca reproduzem. E esta é a segunda particularidade das casas em tijolos de terra com cobertura em abóbadas. À parte de serem pouco dispendiosas, são bonitas. Como o método de construção impõe as formas e o material impõe as proporções só podem ser bonitas; cada linha respeita a distribuição dos esforços e o edifício ganha as formas naturais pretendidas. Dentro dos limites da resistência do material - a terra - e das leis da estática, o arquitecto encontra-se, de súbito, livre para modular o espaço com a sua construção, para inventar novos volumes e para devolver a esse espaço a ordem e o significado à escala humana, de tal forma que a sua casa já não terá necessidade de decorações adicionais. Os próprios elementos estruturais proporcionam um interesse visual infinito. A abóbada, a cúpula, as trompas e os pendentes, os arcos e as paredes proporcionam ao arquitecto um campo ilimitado de emaranhados racionais de linhas curvas vindas de todas as direcções, com passagens harmoniosas de uma para outra.» 

Hassan Fathy, Arquitectura para os Pobres - uma experiência no Egipto rural (Arquitecture for the Poor, an experiment in rural Egypt, 1969), trad. Joana Pedroso Correia, Argumentum/Dinalivro, Lisboa, 2009, p. 25.


fotografia: clara lourenço | 30 abril 2016

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