Taormina

«Fontana Vechia, fonte velha. É assim que se chama a casa. Pace, paz: deparamo-nos com a palavra gravada no patamar de pedra. Não há nenhuma fonte; temos tido, julgo eu, algo semelhante a paz. É uma casa cor-de-rosa dominando um vale de oliveiras e amendoeiras que se afunda no mar. Nos dias límpidos, vê-se, na outra margem, a ponta extrema de Itália, a península de Calábria. Por trás, um sinuoso carreiro de pedras, sobretudo percorrido por camponeses, com os seus burros e cabras, atravessa a encosta da montanha para desembocar na povoação de Taormina. (...)
Taormina, que na verdade é uma extensão de Naxos, a primeira cidade grega da Sicília, leva uma existência ininterrupta desde 396 a.C. Goethe explorou-a em 1787 e descreve-a do seguinte modo: «Sentados onde antes se sentavam os espectadores da bancada superior, temos de confessar desde logo que nunca nenhum público em nenhum teatro teve diante de si espectáculo semelhante ao que daí se avista. À direita, nos altos rochedos da encosta, castelos escalam o céu; mais longe, a cidade estende-se a nossos pés, e, embora todos os seus edifícios sejam construções recentes, são ainda indubitavelmente semelhantes àqueles que antigamente ocuparam os seus lugares. Em seguida, o olhar recai sobre toda a imensa montanha do Etna, depois à esquerda vislumbra a costa até alcançar Catânia, e mesmo Siracusa, e finalmente a extensa e vasta paisagem é enquadrada pelo imenso vulcão fumegante, mas não de todo horrível, pois a atmosfera, com o seu efeito tranquilizante, dá-lhe um ar mais distante e brando do que realmente é.» Presumo que o ponto de vista de Goethe fosse o anfiteatro grego, uma soberba ruína no cimo de um penhasco onde ainda hoje se fazem ocasionalmente peças de teatro e concertos.» 

Truman Capote, Os Cães Ladram - Figuras Públicas e Partes Privadas (The Dogs Bark - Public People and Private Places, 1973), trad. Margarida Vale de Gato, Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2002, pp. 104, 107-108.

fotografia: clara lourenço | 15 setembro 2010

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